quarta-feira, 23 de março de 2016

Carmim de Cochonilha: Insetos na Minha Comida?


Cochonilha refere-se tanto ao corante cor carmim utilizado em tintas, cosméticos e como aditivo alimentar, quanto ao pequeno inseto (Dactylopius coccus) de onde ele é extraído, ou ainda a certos grupos de insetos, como a superfamília Coccoidea ou a família Coccidae.


Nos últimos anos, várias empresas têm sido alvo de consumidores (principalmente nos EUA) sobre o uso do corante carmim de cochonilha, por ser derivado de insetos. Aconteceu com os iogurtes da Danone e com os frappuccinos da Starbucks. Não irei traduzir os textos na íntegra, mas basicamente os consumidores reclamam que esse tipo de coisa deveria ser proibido, que é nojento, que deveria ser escancarado no rótulo, que deveria ser substituído por outro corante, entre outras coisas
Vamos lá: o carmim é um corante natural vermelho intenso, utilizado principalmente nas indústrias farmacêuticas, têxteis, alimentícias, de cosméticos e produtos de higiene. Dentre os alimentos, ele está presente principalmente nos produtos avermelhados sabor morango ou frutas vermelhas, como bebidas, iogurtes, sorvetes, sobremesas, balas, doces, chicletes, geleias e até condimentos. Ele é obtido da fêmea adulta do Dactylopius coccus, a cochonilha – um inseto semelhante a um pequeno besouro. O animal é nativo do México e já vem sendo utilizado para obtenção de corante há centenas de anos pelos povos pré-colombianos. Não é o mesmo corante que o vermelho #40, o qual é sintetizado quimicamente a partir do carvão.
Para produzir o carmim, os insetos são obtidos numa espécie de cacto, do qual se alimentam, para depois serem secos e triturados, formando um tipo de pó. São necessárias milhares de cochonilhas para produzir alguns gramas do corante, motivo pelo qual seu uso é criticado por vegetarianos, veganos e outros defensores do bem-estar animal. Na minha opinião, esse grupos não deveriam sequer consumir nenhum tipo iogurte, frappuccino ou quaisquer outros laticínios, mas enfim, cada um com as suas crenças. Além disso, certos grupos religiosos – como muçulmanos e judeus – evitam consumir alimentos contendo o aditivo pelo fato de insetos serem proibidos na dieta de acordo com a sua fé*.
Um terceiro grupo, mais numeroso, é aquele do “ai que nojo, insetos na minha comida!” –  e esses são os que mais me irritam. Isso vem de um tabu cultural, visto que o consumo de insetos é relativamente comum em outros locais do mundo, como na China e no México, sendo que às vezes chegam as ser considerados como iguarias. Mesmo no Brasil, certas regiões consomem farofa de içá, a rainha de uma espécie de formiga saúva. Os insetos nos fornecem diversos ingredientes dentro e fora da indústria alimentícia, tais como: mel, própolis, seda, cera, remédios e até mesmo joias. Existe também um outro aditivo chamado goma-laca, feito a partir da resina da fêmea do inseto Kerria lacca, utilizado sob o nome “esmalte de confeiteiro“. É empregado como agente glaceante (=dá brilho) em jujubas e balas de goma (elas de novo!), e até mesmo como verniz para madeira.
Além dos “bichinhos intencionais”, já expliquei antes que praticamente todo alimento contém pedaços de insetos, e que é impossível eliminar, controlar ou mesmo fiscalizar isso. O importante é entender que tanto esses traços quanto os aditivos e ingredientes já mencionados não apresentam qualquer risco para a saúde humana. O carmim de cochonilha é considerado como GRAS (=seguro) pelas legislações americana (FDA), europeia (EFSA) e brasileira (Anvisa). Uma única exceção seria uma possível alergia ao corante, o que não é nem um pouco diferente do fato de existirem pessoas alérgicas a vários outros tipos de alimentos, como trigo e amendoim (que são, inclusive, alergias muito mais comuns).
Lembrando também que a Starbucks e Danone estão pagando o pato por um aditivo que praticamente todas as indústrias alimentícias usam. No Brasil, por exemplo, a Nestlé, a Batavo e a Vigor também utilizam o carmim de cochonilha em vários de seus iogurtes e também em outros produtos. E devem continuar, já que não há nada de errado com o corante. Uma coisa que eu acho bem estranha: as mesmas pessoas que criticam o carmim são aquelas que advogam pela eliminação de aditivos sintéticos nos alimentos. Mas oras bolas, não há nada mais natural do que um corante feito de insetos triturados – cadê a lógica? Não que tudo que é natural seja mais saudável ou seguro do que tudo que é artificial, mas isso já é assunto para um outro post…

  • Aparentemente, judeus podem comer gafanhotos, já que eles possuem “pernas”, ou algo assim.


 https://pt.wikipedia.org/wiki/Cochonilha
Fontes [em inglês]:

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